quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Dos desejos

Como é que faz? Acabei esquecendo e deixando pra trás aquela sensação de vida nova dentro do peito. De se surpreender com um sorriso desconhecido e de achar bonito gente engraçada.

Onde é que fica, dentro da barriga da gente, aquele frio gostoso que dá quando se descobre coisas novas? Será que perdi? Ou não lembro onde coloquei?

Cadê aquela vontade de tomar chuva que dava quando eu ainda era eu? Onde botei aquele calor no peito que vinha quando eu dava um abraço? Por que secam meus lábios quando beijo a face de quem tanto amo?

O fato é que cansei de brincar de ser outro, cansei de sentir o que não sinto mais e quero minha alma de volta. Quero voltar a ser bobo e rir de mim mesmo quando acordava de mau humor.

Quero achar engraçadas as piadas sem graças, os amigos patetas, as bobagens faladas.

Quero brilho nos olhos, frio na barriga, brisa no rosto e mão macia segurando a minha quando eu precisar.

Quero acordar cedo e perceber que ainda posso dormir mais, fazer café fresco e deixar o cheio invadir meu quarto.

Quero almoçar salada, achando formas engraçadas na combinação da alface com o tomate e depois ter dor de barriga de tanto comer chocolate.

Quero acordar de madrugada assustado com um sonho ruim e depois dar risada ao perceber que era apenas um sonho.

Quero ser criança e não me sentir bobo por isso e depois ser gente grande e dar risada por levar a vida tão a sério.

Quero voltar a me emocionar com o cheiro de flor entrando pela minha janela e com a joaninha que pousa no meu dedo quando est ico o braço pra ver se vai chover ou não naquele dia.

Quero voltar a cantar pela rua achando engraçada a maneira como as pessoas me olham e me tomam por esquisito.

Quero ler livros por vontade espontânea, ouvir música por necessidade artística e desenhar sem compromisso de ficar bonito.

Quero ver fotos e sentir saudades, ler cartas e ter vontades.

Quero voltar a ser o que fui um dia e já não me lembro mais.

O fato é que tenho uma puta saudade do futuro, então volto-me para dentro e descubro: preciso de mim. A vida então passa a ser um escolha diária: hoje eu escolhi viver.