domingo, 24 de outubro de 2010

Sobre os outros.

Ao Gorgeous, o “menino-solar”.


Primeiro gostaria de começar pedindo desculpas por dedicar esse texto a alguém em especial. Sei que não é costume dedicar os textos em blogs a pessoas, mas é por um bom motivo. Primeiro porque prometi. Segundo porque gosto muito dele. Terceiro porque, assim como eu, ele tem o hábito de fazer poesia na própria vida e na vida das pessoas que ele conhece. Se tudo isso não for o suficiente, devo dizer que esse menino adora doces, música, cinema e Clarice Lispector. E se nada disso bastar, devo dizer que ele é uma das únicas pessoas que conheço que acorda cedo pra patinar no parque e dança sozinho em casa na frente do espelho, e eu acho tudo isso incrível.
(pequeno momento de reflexão)
Pra que ninguém se sinta de fora, vou mudar a dedicatória e sei que o “menino-solar” vai entender.

Aos “meninos-solares” que existem dentro da gente.




Dia desses eu estava pensando na minha vida. Pode parecer um tanto egoísta, mas estava pensando unicamente em meu mundo particular inventado e criado por mim. E não é que pensando em mim acabei me lembrando dos outros? Pois é… Comecei a pensar na quantidade de gente que cruza ou cruzou a minha vida esse tempo todo. Recapitulei vários momentos bons e ruins que aconteceram nos últimos tempos e a quantidade de sentimentos que vivi em virtude de tudo isso. Eu choro fácil, então chorei…

Não me lembro ao certo e com clareza o que senti porque foi muita coisa. A gente sempe sente muita coisa quando lembra de gente amada. Eu só sei que fui invadido por uma felicidade tão grande por estar vivo, por um sentimento de alívio por respirar e por ter tido a oportunidade de conhecer cada um que passou por mim, cada um que cruzou meu mundo.

Eu tenho tantos mundos dentro de mim que, às vezes, acabo esquecendo do meu próprio. E não acho isso ruim. Acho que o meu mundo é feito também dos mundos das outras pessoas.

Aí eu penso no povo querido que encontro pela vida e não consigo deixar de sorrir. Eu sei que todo mundo reclama das pessoas hoje em dia (eu mesmo já o fiz várias vezes), mas tem tanta gente cheia de vida por aí que a gente nem sabe…

Todo o mundo numa procura louca pela felicidade, numa busca incansável da verdade de si, da verdade do Eu-Maior. E será que existe tal verdade? Eu não sei o que existe ou não existe. Não sei da verdade do mundo, não sei da verdade da vida e sei pouco, ou menos ainda, da minha verdade.

Aí me lembro daquela frase famosa do Caio Fernando Abreu (não lembro de qual texto nem do livro) que diz assim: “Não estou fazendo nada errado, só estou tentando deixar as coisas mais bonitas”.

É bem assim que tenho me sentido, tentando embelezar um pouco a minha vida e a vida dos outros. Tentando aliviar um pouco a dor do mundo. A minha parcela é muito pequena, sei e tenho consciência disso, mas percebo o quanto tudo isso pode ser especial.

É por isso que acredito em amigos. Por isso que acredito em mão amiga, em toque suave, em voz doce… Por conta disso não me importo em ser acordado de madrugada por um telefonema choroso, atravessar a cidade só pra dar um ombro, gastar um dinheiro que não se tem só pra fazer companhia pra alguém, falar de coisas banais como se fossem as mais importantes do mundo, tomar um drink que você sabe que vai te dar dor de cabeça no outro dia só pra fazer alegria, ir pra uma balada miada com gente esquisita e torná-la o melhor lugar do mundo, sair do trabalho correndo pra conseguir se encontrar, falar horas no celular mesmo se arrependendo da conta que vem depois, perder horas de sono por ficar no messenger até de madrugada provando a alguém o quanto essa pessoa não é só no mundo…

É por conta de tudo isso que ainda acredito nas pessoas. Esses “outros” que passam diariamente por minha vida e me fazem perceber o quanto sou especial e feliz. Esses outros que me ajudam a ser quem sou, que me fazem ver o meu lugar no mundo.
Eu amo cada um que conhece o meu pequeno universo particular. Amo demasiadamente cada pequena individualidade que se soma à minha durante esse breve espaço da minha existência.

Obrigado, “outros” da minha vida, por cada vez que somos um.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Dos desejos

Como é que faz? Acabei esquecendo e deixando pra trás aquela sensação de vida nova dentro do peito. De se surpreender com um sorriso desconhecido e de achar bonito gente engraçada.

Onde é que fica, dentro da barriga da gente, aquele frio gostoso que dá quando se descobre coisas novas? Será que perdi? Ou não lembro onde coloquei?

Cadê aquela vontade de tomar chuva que dava quando eu ainda era eu? Onde botei aquele calor no peito que vinha quando eu dava um abraço? Por que secam meus lábios quando beijo a face de quem tanto amo?

O fato é que cansei de brincar de ser outro, cansei de sentir o que não sinto mais e quero minha alma de volta. Quero voltar a ser bobo e rir de mim mesmo quando acordava de mau humor.

Quero achar engraçadas as piadas sem graças, os amigos patetas, as bobagens faladas.

Quero brilho nos olhos, frio na barriga, brisa no rosto e mão macia segurando a minha quando eu precisar.

Quero acordar cedo e perceber que ainda posso dormir mais, fazer café fresco e deixar o cheio invadir meu quarto.

Quero almoçar salada, achando formas engraçadas na combinação da alface com o tomate e depois ter dor de barriga de tanto comer chocolate.

Quero acordar de madrugada assustado com um sonho ruim e depois dar risada ao perceber que era apenas um sonho.

Quero ser criança e não me sentir bobo por isso e depois ser gente grande e dar risada por levar a vida tão a sério.

Quero voltar a me emocionar com o cheiro de flor entrando pela minha janela e com a joaninha que pousa no meu dedo quando est ico o braço pra ver se vai chover ou não naquele dia.

Quero voltar a cantar pela rua achando engraçada a maneira como as pessoas me olham e me tomam por esquisito.

Quero ler livros por vontade espontânea, ouvir música por necessidade artística e desenhar sem compromisso de ficar bonito.

Quero ver fotos e sentir saudades, ler cartas e ter vontades.

Quero voltar a ser o que fui um dia e já não me lembro mais.

O fato é que tenho uma puta saudade do futuro, então volto-me para dentro e descubro: preciso de mim. A vida então passa a ser um escolha diária: hoje eu escolhi viver.